O vulcão carbonático da África (Parte 1)

Esse post é a tradução e adaptação de um "artigo" sobre o vulcão africano Oldoinyo Lengai e sua peculiaridade. Esse é o primeiro post para falar um pouco sobre a formação dos carbonatitos e a origem do magma carbonático:

A grande maioria dos vulcões expelem lava a base de sílica, mas esse vulcão africano expele lava a base de carbonato, o que o torna único.
 

     Geólogos tem descoberto indícios de vulcões que expelem lava carbonática - gerando os conhecidos carbonatitos - por todo mundo. Mas um vulcão do Rifte do Leste Africano é o único que atualmente espele lava carbonática. O vulcão Oldoinyo Lengai é um mistério para os vulcanólogos, que se perguntam qual é a fonte desse magma rico em carbonato. 







     O Vale do Rift do Leste Africano

     O vulcão Oldoinyo Lengai é um vulcão composto (estratovulcão) localizado na Tanzânia ao longo do vale do rift do leste africano. O vale do rift do leste africano se estende por 3.700 km (2.300 milhas), de Moçambique a Etiópia, e é o lar de muitos vulcões africanos, como o inativo Monete Kilimanjaro e o ativo Monte Nyiragongo. O Vale do Rift (conhecido também como o Grande Vale do Rift) é um produto de rifteamento continetal (mid-continent rifting), onde um rift no meio do continente está separando a crosta na região da África Oriental. A placa africana é considerada uma placa continental, porém onde o rift está localizado duas novas placas estão se formando. Estas placas - ou subplacas - são chamadas de Placa de Somali (Somali Plate) e Placa de Núbia (Nubian Plate).

     Onde a crosta está sendo separada, o magma é capaz de subir até a superfície. Isso levou a formação de uma área com intensa atividade vulcânica, que varia de vulcão para vulcão. Alguns vulcões são relacionados à atividades de hotspots (pontos quentes ou plumas mantélicas), alguns ao processo de rifteamento e alguns associados a combinação dos dois. Além disso, os vulcões ao longo do Vale do Rift geram as mais altas e mais baixas altitudes do continente - do imponente Monte Kilimanjaro (5.895 metros acima do nível do mar) até a Depressão de Danakil na Etiópia, que se encontra abaixo do nível do mar. No entanto, os geólogos vão concordar em uma coisa: o vulcão mais peculiar de todos é o de carbonatito, o Oldoinyo Lengai.

     O vulcão Oldoinyo Lengai

     Esse "vulcão carbonático" tem quebrado a cabeça dos vulcanólogos desde sua descoberta em 1960, quando um geólogo testemunhou um vulcão que expelia lava carbonática. Antes disso, era comumente aceito que rochas compostas principalmente por material carbonático eram sedimentares e qualquer rochas suspeita de ser ígnea com alta concentração de carbonatos era na verdade sedimentares. Quando o Oldoinyo Lengai foi descoberto, os geólogos começaram a perceber que na verdade vulcões poderiam sim expelir lava carbonática, formando rochas ígneas ricas em carbonato.

     Algumas diferenças entre o magma carbonático e o magma silicoso:

-  A composição do magma pode variar, porém a maioria dos magmas contêm mais sílica do que qualquer outra substância. O magma máfico - que gera o basalto, por exemplo - contem cerca de 52% de sílica e o magma félsico - que gera o andesito - contem cerca de 64% de sílica. O magma carbonático em Oldoinyo Lengai contem somente 3% de sílica.
- A lava carbonática é a mais fria da Terra. Ela é expelida a cerca de 500-600ºC (930-1100ºF), enquanto que o magma silicoso é expelido em temperaturas entre 700 e 1200ºC (cerca de 1300-2200ºF).
- Os fluxos de lava, como os "rios de lava" que são expelidos pelo Kilauea, brilham em vermelho durante o dia. A lava carbonática brilha em vermelho somente durante a noite e aparece como marrom ou preta durante o dia.

     A origem do magma carbonático

     Por muitos anos, a origem e a fonte do magma do Oldoinyo Lengai permaneceu um mistério para os cientistas. Porém um artigo recente intitulado como "Upper-mantle volatile chemistry at Oldoinyo Lengai volcano and the origin of carbonatites" publicado dia 7 de maio de 2009 na revista Nature, fornece uma explicação para a origem desse magma incomum. Os autores, um grupo de cientistas da Universidade do Novo México, do Instituto de Oceonografia de Scripps da Universidade da Califórnia em San Diego e o Centro de Pesquisas Petrográficas e de Geoquímica (Centre de Recherches Petrographiques et Geochimiques) em Nancy, na França, utilizaram técnicas de análise geoquímica dos gases  do vulcão. A partir desta análise, os cientistas descobriram que os indícios geoquímicos dos gases do manto vindo do Oldoinyo foram quase idênticos à gases do manto associados a cadeias meso-oceânicas - áreas tectonicamente similar a rifts continetais, porém são sob o oceano. A partir desses achados eles puderam concluir que o carbonato do magma pode ter origem na fusão parcial de minerais do manto superior terrestre e não precisa necessariamente ser uma fonte de magma com altas quantidades de carbono.


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