Gerente de mina em Carajás conta sua trajetória profissional. Segundo ele, a profissão exige ‘gostar de picada de mosquito de vez em quando’.
A ascensão de Cristiano Soares de Souza, 34, na carreira de geólogo foi bem rápida. Em pouco mais de seis anos, ele passou de um cargo técnico a coordenador de uma mina de manganês operada pela Companhia Vale do Rio Doce, em Carajás, no Pará.
Sob sua responsabilidade, estão cerca de 900 pessoas, entre contratados da companhia e funcionários de empresas apoiadoras. Segundo ele, o “amor pela natureza é o que mais chama atenção na carreira. É preciso gostar muito de montanha, água” e quem quer ser geólogo precisa “gostar de vida ao ar livre, de campo, de ser picado por mosquito de vez em quando”. Confira a entrevista completa.
Repórter - Como foi a escolha da profissão? Onde fez a graduação?
Cristiano Soares de Souza - Foi um pouco de amor à segunda vista. Durante o meu segundo grau, sempre me interessei pela área de ciência e cheguei a fazer estágio na Petrobras. No terceiro ano, quando fui fazer um trabalho é que fiquei apaixonado. Fui visitar um museu da Universidade de Brasília (UnB) e, quando comecei a ver as rochas, a formação, as pedras preciosas, isso me chamou muita atenção. Fiz a faculdade na UnB.
Repórter – Como foi o curso?
Souza - É meio complicado, porque quem não está acostumado com a parte de ciências exatas, acaba ficando com pé atrás. Passa por toda a parte de cálculo, físico-química, química. Só depois é que o curso começa a ficar mais voltado para a geologia.
Repórter – Como foi seu ingresso no mercado?
Souza – No terceiro ano de faculdade, comecei a fazer estágio em mineradoras. Fiz um estágio no Tapajós, no Pará. Depois fiz outro estágio em Brasília. Depois tive meu primeiro emprego em Mato Grosso.
Repórter – Como foi sua entrada na Vale do Rio Doce?
Souza - Entrei quando estava fazendo mestrado. Na época, tinha três oportunidades, mas escolhi trabalhar com exploração mineral na Vale, no Pará. Isso foi em 2000.
Repórter – E é possível conciliar a família com isso tudo de viagens e lugares de trabalho?
Souza – Eu sou casado. Em 2000, quando vim para o Pará, minha esposa [namorada na época] morava em Brasília. Casei em 2001 e, nessa época, vinha e voltada de Carajás. Passava 20, 25, 30 dias na floresta, em um lugar onde tinha de chegar de helicóptero, porque o acesso por via terrestre era muito ruim. Daí, ia para casa e passava dez dias. Em 2002, minha esposa, que é química, conheceu o local da companhia, gostou e acabou tendo uma oportunidade. E eu fui transferido da exploração, para a parte a mina manganês.
Repórter – Como foi o trabalho de exploração da mina?
Souza – Esse trabalho é a primeira coisa feita antes de operar uma mina. É o trabalho básico de ir a campo e checar se há ou não minério. Só depois que se vê a viabilidade, é que se constrói a mina. Eu ficava muito em campo, tinha base e saí de helicóptero. Depois, quando fui para a mina, todo dia chegava em casa.
Repórter – Como é a rotina?
Souza - A base de exploração mineral não tem rotina. Você fica viajando o tempo inteiro, conhece cidades. Já no caso da mina, você fica com base exclusivamente num local. E todo dia também há uma coisa diferente para fazer.
Repórter – E depois como foi sua ascensão?
Souza – Consegui virar geólogo pleno algum tempo depois de que cheguei na mina. Então, depois de dois anos, virei o gerente de planejamento da mina. A partir desse momento, tinha de definir os equipamentos, verificar a necessidade de materiais. E no ano passado tive mais um desafio, que foi me tornar coordenador de toda a mina. Coordenar o planejamento, a usina de processamento de minério e a expedição rodoviária e ferroviária até São Luís. A experiência foi bem diferente, porque essa função geralmente é do engenheiro de minas.
Repórter – Qual foi seu maior desafio?
Souza – Quando comecei a trabalhar com manganês, passei por uma situação diferenciada. Tive de ter conhecimentos específicos de ferroliga [usado em alguns tipos de aços] e atender o que o mercado pedia de material.
Repórter – E qual foi sua maior dificuldade?
Souza – No início, tive dificuldade de saber que o que a gente estuda na faculdade é a base para o que está no campo profissional, mas não mostra tudo. É preciso aprender no campo. No começo, a gente fica pensando assim: ‘Nossa, a gente é muito burro’ [risos]. Mas a cada dia a gente vai aprendendo coisas novas e vê que as dificuldades vão passando. E a gente precisa estudar cada vez mais. Aí existe a questão de tempo, estudar uma língua. E conciliar a família com o trabalho também é difícil.
Repórter – O senhor fez pós-graduação?
Souza – Fiz mestrado em geologia de prospecção mineral em Brasília, bem voltado para a parte pura, a parte de exploração mineral. E nos últimos dois anos, fiz uma especialização em engenharia de materiais, com foco em ferroliga.
Repórter – Qual o perfil que o geólogo deve ter?
Souza – Tem de ter cabeça aberta e gostar muito do que faz. A profissão é um meio termo entre ciências naturais e ciências exatas. Precisa gostar de número, e ter uma visão geral do meio físico para tirar algumas conclusões. E precisa ter uma boa comunicação com as pessoas, porque tem interação com o engenheiro civil, com o metalurgista, com o de petróleo. E também tem de conversar com fazendeiro, com peão. Se a pessoa é acanhada demais, não vai dar certo. Também é preciso gostar de vida ao ar livre, de campo, de ser picado por mosquito de vez em quando. O amor pela natureza é o que mais chama atenção na carreira. Gostar muito de montanha, água, natureza é um dos pontos mais relevantes.
Fonte: G1
1 comentários:
Quero agradecer pela matéria, pois me ajudou a reforçar aquilo que eu já sabia mas tinha medo de me decepcionar. Geologia é a profissão que eu quero para a minha vida e vou me esforçar ao máximo para entrar na faculdade, realizar o meu sonho e ser o orgulho dos meus pais.
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